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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Comunicado Imprensa: Seed Savers australianos inspiram hortelões e agricultores de Portugal a defender as sementes livres


Coimbra, 14 de Novembro 2011 – A Seed Savers Tour concluiu no Domingo passado a sua digressão por Portugal com um curso de introdução à permacultura sob a égide da semente. Com as sementes tradicionais ameaçadas de extinção sob pressão da indústria agro-química e a conivência dos órgãos internacionais e governos dos países da OCDE, mais do que nunca hortelões, hortelãs, agricultores e agricultoras são chamados a retomar a prática milenar de preservar a semente. Nas palavras de Michel Fanton, da Seed Savers Network australiana, que celebra este ano um quarto de século de preservação e troca de sementes tradicionais: "Guardar a semente deve voltar a ser tão natural como respirar".
Durante 10 dias Michel e Jude Fanton partilharam conhecimentos, experiências e histórias sobre sementes e horticultura com mais de 400 horticultores, permacultores e aspirantes, em eventos no Algarve, Alentejo, Lisboa e Coimbra.
No Algarve, a partilha decorreu no “Encontro da Semente”, o evento anual da rede portuguesa de variedades tradicionais, Colher para Semear, tratando-se de um público já desperto para a questão das sementes e variedades tradicionais. O filme dos Seed Savers “As Nossas Sementes”(1) foi recebido com entusiasmo e questões de ordem prática sobre a preservação das sementes e a recuperação do património genético vegetal nacional.
Em Lisboa e em Coimbra, a projecção do filme foi complementada por debates com os Fanton, guardiões e guardiãs de sementes portugueses e representantes da Campanha pelas Sementes Livres, onde ficou claro que preservar a semente, outrora uma prática comum, é hoje um acto político, num clima de crescente apropriação dos recursos genéticos por corporações. Os “hortelões urbanos” vieram também em grande número assistir às oficinas sobre horticultura, preservação e limpeza de sementes, facilitada pelos Seed Savers na Escola Casa Verdes Anos e Horta do Monte, em Lisboa, e no Jardim Botânico de Coimbra. Em todos os eventos organizados no âmbito da digressão pelas sementes livres, a paixão dos Seed Savers australianos pelas sementes tradicionais foi apenas superada pelo interesse insaciável dos participantes.

A experiência de Michel e Jude Fanton demonstra que a preservação de sementes locais, para além dos benefícios para a biodiversidade agrícola, oferece também vantagens de ordem económica e prática para os horticultores: elimina a necessidade de comprar sementes novas todos os anos e evita o recurso a fertilizantes e pesticidas, uma vez que se trata de sementes adaptadas às condições locais. Mas a principal mensagem deixada pelos Seed Savers em Portugal é que recolher e preservar sementes é fácil e acessível a qualquer pessoa: num simples passeio pela horta, jardim ou bosque podemos recolher uma grande variedade de sementes, bastando estar atento, como é o caso dos Seed Savers, que andam sempre com sementes nos bolsos.
No entanto, segundo Michel Fanton: "É preciso salvar o agricultor ainda antes de salvar a semente". O agricultor tradicional está em extinção, por isso, mais do que tentar conservar variedades raras em jardins ou bancos de germoplasma, devemos focar em retomar em grande escala a agricultura de pequena escala. É essencial semear, colher e voltar a semear, partilhando livremente as nossas sementes juntamente com os conhecimentos agrícolas, culturais e gastronómicos que lhes estão associados. “O melhor banco de sementes continua a ser a própria terra”, afirma Michel Fanton.
A Seed Savers Tour teve como pano de fundo a polémica das patentes sobre a vida, alimentada pela decisão recente do Instituto Europeu de Patentes de não revogar as contestadas patentes sobre bróculo e tomate. Entretanto, no dia 8 de Novembro, o Instituto deu um sinal positivo, remetendo a patente concedida ao Estado de Israel sobre um tomate que seca na rama (2), para o “Enlarged Board of Appeal”, que deve agora tomar uma decisão de princípio sobre a patenteabilidade de animais e plantas.
A Campanha europeia pelas Sementes Livres, que organizou a digressão dos Seed Savers com a ajuda dos colectivos, associações, ONGs, produtores agrícolas e permacultores que subscrevem a campanha (3), visa inverter o rumo da agricultura na Europa, onde os modos de produção intensivos se sobrepõem cada vez mais à agricultura tradicional e de pequena escala e onde as variedades agrícolas e as próprias sementes, a base da vida, estão a ser retiradas da esfera comum e entregues nas mãos de multinacionais do agro-negócio.

Para mais informações:
Lanka Horstink – coordenadora da Campanha pelas Sementes Livres em Portugal sementeslivres@gaia.org.pt
Site da Campanha pelas Sementes Livres:  
http://www.sosementes.gaia.org.pt/
Site da Seed Savers Network:
http://www.seedsavers.net/

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